- Introdução
- Contexto
- Vida
- Pensamento
-
Obras
- Plurilinguismo
- Llull e o catalão
- Difusão e conservação das obras
- Livro de contemplação em deus
- Llibre del gentil e dels tres savis
- Llibre de l'orde de cavalleria
- Doctrina pueril
- Llibre de Evast e Blaquerna
- Llibre d'amic e amat
- Ars demonstrativa
- Llibre de meravelles ou Fèlix
- Llibre de les bèsties
- Desconhort
- Arbre de ciència
- Arbre exemplifical
- Cant de Ramon
- Retòrica nova
- Logica nova
- Liber de fine
- Art breu
- O fantástico
- Art abreujada de preïcació
- Imagens
- Base de dados / Dicionário
A mística luliana
A Arte era ao mesmo tempo uma arte de conversão, de demonstração e de contemplação. A mística luliana, do Llibre de contemplació en Déu à Arte de contemplação, desenvolve o segundo aspeto da Arte que é basicamente ser um método de orar e contemplar tendo como eixo a teoria das dignidades divinas: trata-se de considerá-las na sua mútua circularidade, umas nas outras, na medida em que são uma só coisa entre elas e com Deus. No Llibre d'amic e amat e na Arbre de filosofia d'amor acrescenta-se uma bela e subtil doutrina do amor. “Diz, louco, o que é o amor? Responde dizendo que o amor é aquela coisa que aos livres mete em cativeiro, e aos servos dá liberdade. E é questão saber qual é mais própria do amor: a liberdade ou a servidão (versículo 287). “Entre temor e esperança fez hostil amor, onde vive de pensamentos e morre por esquecimentos…” (versículo 17).
A mística luliana apoia-se no conhecimento, mas culmina no amor. A memória, o entendimento e a vontade, sempre em jogo, são o centro da ação do amigo e nele também do amado. O entendimento e a vontade, a ciência, a “amância” – uma palavra com novo uso que Lúlio contrapôs à de “ciência” e com a qual expressa a sua conceção teórica-prática do amor – complementam-se dialeticamente, mas as duas primeiras põe-se ao serviço das segundas. Nos “caminhos” do amigo até ao amado intervêm ao mesmo tempo o entendimento, que prepara o caminho, e a vontade, que o leva a cabo: “perguntou o amigo ao entendimento e à vontade, qual estava mais próximo do seu amado, e correram ambos, e chegou antes o entendimento ao seu amado, que a vontade” (versículo 19). À inteligência corresponde, portanto, a condução para Deus. Mas uma vez conduzida a alma ao limiar do mistério divino, o entendimento retira-se e dá lugar à vontade. Então acaba o discurso e fica apenas o amor. “Iluminou o amor a névoa que está entre o amigo e o amado; e fê-lo deste modo luminoso e resplandecente como é a lua na noite, a estrela na alvorada, e o sol no meio-dia e o entendimento na vontade; e por aquela névoa tão luminosa falam-se amigo e amado” (versículo 118).
A contemplação das criaturas tem na mística luliana um papel principalmente secundário. Efetivamente, criadas à imagem das dignidades divinas, as criaturas significam as perfeições do Criador. Mas o espírito não deve deter-se, deve esforçar-se por as deixar para trás e elevar-se a Deus: “Viu o amigo uma bela flor que tinha criado o seu amado, e disse à flor que a sua beleza o levava a pensar na beleza do seu amado; e por isso a flor disse ao amigo que não havia grandes e duráveis pensamentos para com o seu amado, dado que aquele que tem grandes pensamentos de amor é o que pensa simplesmente no amado, segundo as condições do amado e a natureza e a essência do amor (Arbre de filosofia d'amor).